O setor de franquias de alimentação foi um dos mais afetados pela pandemia de coronavírus.
O cenário desafiador acabou forçando as redes a se adaptar a uma nova realidade e acelerou uma série de transformações que já se anunciavam para o segmento.
Mesmo agora, com a flexibilização da quarentena e a retomada de muitos setores da economia, não há dúvidas de que o mercado de alimentação não será o mais o mesmo e que novas tendências devem se consolidar daqui para frente.
Recentemente, a ABF, em parceria com a Galunion, fez uma edição especial da sua tradicional Pesquisa de Food Service e apontou algumas das transformações que devemos ver com mais frequência no franchising pós-pandemia.
A seguir, destacamos cinco tendências baseadas na pesquisa que merecem a atenção dos franqueadores.
Consolidação do delivery
O isolamento social obrigou os restaurantes a fechar seus salões e investir no delivery para continuar operando. E o relatório desenvolvido pela Galunion e ABF identificou esse movimento.
De acordo com o estudo, a participação do delivery no faturamento das franquias dobrou recentemente: passou de 18% para 36%.
Quando perguntadas sobre quais canais as franquias adotaram ou pretendem adotar ainda em 2020, o delivery também é a principal opção, sendo apontado por 73% dos entrevistados.
E mesmo agora, com a reabertura, muitos brasileiros continuam enxergando nas entregas uma forma mais prática, rápida e segura de consumir. Por isso, novos modelos de negócio com foco em entregas estão surgindo.
O principal deles é o ghost kitchen (também chamado de dark kitchen ou de cloud kitchen), um restaurante que opera apenas com delivery e que já está sendo adotado por várias redes de franquias.
Entre os respondentes do estudo, cerca de 45% das redes de franquias de alimentação enxergam neste formato a principal alternativa para a expansão daqui para frente.
Pedidos em diferentes canais
O fortalecimento do delivery também ajudou a desenvolver o conceito de multicanalidade nas franquias de alimentação.
Por conta da pandemia e da necessidade de aproveitar todas as oportunidades possíveis de alcançar o consumidor, as redes passaram a atuar em diferentes canais digitais.
Antes da pandemia, 45% delas usava meios de captação de pedidos próprios e terceirizados. Agora, são 73%.
A utilização exclusiva de plataformas de terceiros caiu de 43% para 24% e as franquias que contavam apenas com os aplicativos próprios passou de 5% para 3%.
Além disso, o percentual de franqueadores que não tinham nenhum tipo de captação de pedidos pela internet era de 7% e foi zerado depois da crise.
Os números mostram que as franqueadoras têm se preocupado em estar no maior número de canais possíveis e que muitas criaram ou otimizaram seus próprios aplicativos para atuar com suas ferramentas neste momento.
Apesar de exigir mudanças na gestão e uma maior organização para atender as demandas de diferentes fontes, essa estratégia pode ser bastante interessante, uma vez que aumenta a captação de pedidos e oferece ainda mais conveniência para o consumidor.
Consumo em casa
Mas não são apenas as entregas que têm contribuído para a ascensão do consumo em casa.
O take away e o grab ‘n go também estão relacionados com esse movimento e são citados por 56% e 32% das franquias como novas oportunidades de vendas no novo normal.
No primeiro formato, os pedidos são feitos pela internet e retirados pelo consumidor no restaurante. Já no segundo, as refeições estão prontas e podem ser compradas no local e consumidas em casa.
Os dois modelos exigem ajustes nas operações das franquias de alimentação, como um balcão exclusivo para o take away e uma vitrine onde os produtos possam ser expostos e acessados facilmente pelo consumidor.
Mas esse tem sido visto como um investimento interessante, uma vez que evita aglomerações no salão e atende o público que se acostumou a consumir em casa. Por isso, é uma tendência que vale a pena ser considerada.
Cardápio enxuto e sazonal
Com foco na redução de custo e em inovações que continuem atraindo o público, as franquias também devem priorizar duas estratégias comerciais: os cardápios mais enxutos e ofertas de produtos disponíveis por tempo limitado (LTOs).
As lojas com cardápio reduzido como forma de expansão são citadas por 33% das redes de alimentação, atrás apenas das dark kitchens. Já o lançamento de produtos sazonais é apontado como principal mudança no cardápio de 39% dos entrevistados.
Também fazem parte das novidades neste ano os cardápios exclusivos para o delivery (34%), novos pratos principais (33%), novas sobremesas (30%) e a inserção de opções saudáveis (23%).
Investimento em tecnologia
A pandemia também contribuiu para acelerar a transformação digital no franchising.
Através de recursos tecnológicos, as companhias estão conseguindo vantagens muitos importantes nesse momento, como reduzir custos operacionais, automatizar tarefas, melhorar a tomada de decisões por meio da análise de dados e agilizar o atendimento.
Segundo a Pesquisa de Food Service, houve um incremento em todas as principais ferramentas tecnológicas usadas para interagir com o consumidor ou facilitar a gestão.
O WhatsApp, por exemplo, era usado por 26% das redes em 2019. Neste ano, foi adotado por 60% das franqueadoras. Na sequência, aparecem a aderência aos menus por QR Code, que passou de 6% para 56%, e os aplicativos de pedidos e pré-pagamento, que tiveram uma evolução de 9% para 44%.
No que diz respeito à administração do negócio, os painéis de gestão se destacam. Em 2019, eram prioridade para 42% das franqueadoras. Neste ano, o percentual subiu para 60%.
Também marcam presença na lista as tecnologias ligadas diretamente aos POS (pontos de vendas), com aumento de 9%; o planejamento de produção, que evoluiu 10%; e os inventários, com 3% de crescimento.
Embora ainda seja difícil ter certeza do que aguarda as franquias de alimentação no mundo pós-coronavírus, acompanhar essas e outras tendências pode ser fundamental para que as franqueadoras preparem para um mercado que já foi transformado pela pandemia e deve continuar mudando nos próximos meses.