A Praxis Business, especialista em consultoria e educação corporativa para o franchising, varejo e canais de vendas, realizou um estudo para entender como as redes de franquias estão lidando com as consequências da pandemia de coronavirus no país.
A pesquisa foi realizada entre os dias 25 e 31 de março e contou com a participação de cerca de 90 redes, responsáveis por 21 mil operações (próprias e franqueadas). Participaram do estudo, principalmente, diretores (38%), gerentes (28%) e presidentes (22%) das franquias.
A Praxis Business entrevistou profissionais de franquias de diversos segmentos, como alimentação (31%), saúde, beleza e bem-estar (20%), moda (13%), serviços e outros negócios (10%), casa e construção (9%) e serviços educacionais (8%).
A seguir, vamos explorar os principais dados e insights levantados pelo estudo.
Percepção e consequências da crise
A crise da COVID-19 já está trazendo consequências para a economia e o franchising brasileiro, e é necessário implementar ações para proteger os empregos, o faturamento e, principalmente, a vida dos trabalhadores.
Neste momento extremamente delicado, deve haver uma junção de resiliência, estratégia e empatia, para tomar decisões assertivas e humanas que desenhem um futuro sustentável em todas as esferas.
As projeções para esse futuro, porém, geram divergências entre os executivos.
Para 54% deles, as redes estarão iguais ou melhores no que diz respeito ao mercado, estrutura e financeiro quando a pandemia passar. O restante acredita que as empresas estarão piores.
Mais da metade também acredita que as atividades do comércio e da economia devem ser retomadas ainda em abril deste ano, o que vai ajudar e equilibrar os prejuízos das últimas semanas.
Outros 40% projetam um retorno mais lento, mas que deve acontecer ainda no primeiro semestre deste ano.
Quando perguntados sobre quando seus negócios devem voltar ao mesmo patamar em que estava antes da crise, as respostas também são parecidas. 57% prevê retorno no segundo semestre e 19% acredita em uma normalização apenas no próximo ano.
No quesito financeiro o cenário é um pouco mais delicado. O afastamento social e a retração econômica contribuem para que 44% das redes de franquias vislumbram uma redução de até 25% em suas receitas. Para outros 51% a queda esperada é ainda maior.
Adir Ribeiro, presidente-fundador da Praxis Business, comentou os resultados: “Diante de um cenário imprevisível essas percepções e posicionamentos podem mudar a cada semana”. Além das mudanças que ainda podem acontecer, ele também acredita que o posicionamento das franquias pode influenciar nas respostas: “Temos visto algumas redes mais preparadas que outras, então serão menos impactadas com tudo isso”.
Medidas de apoio ao franqueado
O papel do franqueador é prestar suporte aos franqueados, e, principalmente em um cenário desafiador como o atual, esse apoio se torna ainda mais importante.
Sabendo disso, as companhias estão desenvolvendo ações para minimizar os prejuízos e ajudar os franqueados a superarem a crise. Afinal, a sobrevivência das marcas depende muito de quem lidera as unidades.
“O franchising consiste nessa relação interdependente, na qual o sucesso da franqueadora está vinculado ao resultado que os franqueados obtêm na ponta. As medidas afetam a todos. Neste período, ambas as partes terão prejuízos”, considera Adir.
De acordo com o executivo, o momento é de fortalecer a parceria, chegar a acordos comuns, com ajuda mútua, transparência e muita comunicação. “Mais do que tudo, precisamos ter muita empatia”, frisa.
Novas formas de vender e redução de custos
Entre os entrevistados, 87% têm apoiado a renegociação de aluguéis, 80% estimulam as vendas online e entrega por delivery, 76% estão ajudando os franqueados com estratégias para cortar custos e 73% estão intermediando as negociações com fornecedores.
Percebe-se no relatório que a forma como as franqueadoras orientam a redução de despesas varia de acordo com as particularidades do segmento.
Os incentivos às vendas online e ao delivery, por exemplo, têm sido amplamente adotados pelas franquias de alimentação (96%), casa e construção (88%) e serviços educacionais (86%). Mas não está fazendo parte das estratégias de companhias de comunicação, informática e eletrônicos.
De acordo com a pesquisa, esse setor está focado em renegociação de aluguéis e cortes de custos das unidades
Comunicação contínua
A pesquisa da Praxis Business também indica que 53% das franqueadoras estão fazendo comunicados oficiais junto às suas redes como forma de transmitir confiança, disponibilidade e orientar os franqueados.
Mais da metade delas se comunica com uma periodicidade diária, e o Whatsapp é o principal meio de comunicação, apontado por 43% dos entrevistados.
As lives (encontros online ao vivo) aparecem em segundo lugar e foram adotadas por 26% das redes. Os vídeos (20%) e e-mails (11%) também são utilizados para manter a comunicação com a rede.
Redução de cobranças
A suspensão, parcelamento ou adiamento de cobranças também têm sido ações para ajudar os franqueados a resguardar as finanças.
Cerca de 36% dos franqueadores alteraram suas taxas de royalties e 43% postergaram ou eliminaram a cobrança do fundo de marketing. Na maioria dos casos, os ajustes valem por até 4 meses.
Algumas marcas estão adotando políticas de desconto nas cobranças para vendas feitas por delivery ou no sistema “grab and go”, no qual o cliente vai até a unidade apenas para retirar o pedido – feito pela internet ou telefone – e consume o produto em casa.
Neste último caso, a ideia é incentivar os franqueados a priorizar as vendas online e com entregas à domicílio, já que o afastamento social é uma das melhores medidas para refrear a propagação do coronavírus.
Capacitação à distância
As redes de franquias também têm se mostrado preocupadas em capacitar seus franqueados e funcionários durante esse período.
Isso é válido, principalmente porque essa pode ser uma boa fase para se aprimorar para próximos desafios e desenvolver habilidades como liderança, inteligência emocional e disciplina. E manter uma equipe alinhada e bem preparada também significa ganhar vantagens competitivas no futuro.
Com isso, 68% das franquias estão treinando seus franqueados à distância e 63% investem em capacitação do time da franqueadora.
As redes que mais têm apostado em capacitações para os franqueados e suas equipes são dos segmentos de serviços educacionais, serviços e outros negócios e saúde, beleza e bem-estar.
Expansão de franquias
Naturalmente, a instabilidade da economia e a preocupação com os desdobramentos do coronavírus tiraram o foco de muitos brasileiros em investir em um novo negócio, em um primeiro momento.
Segundo as redes entrevistadas, a maioria das negociações que estavam em andamento foram pausadas. Além disso, 83% afirma que o número de candidatos à franqueado diminuiu sensivelmente.
Porém, Adir também acredita que enquanto uma fatia da população pode evitar aportes financeiros, outra pode encontrar nas franquias uma oportunidade de superar a crise.
“Penso que, ao mesmo tempo em que muitos decidirão não se arriscar agora, com novos investimentos, o aumento na taxa de desemprego pode fazer com que mais brasileiros busquem no franchising uma alternativa”, finaliza.
“Temos um sistema de franchising forte no Brasil, muitas franqueadoras bem estruturadas, marcas sólidas. A minha opinião é que vamos atravessar a crise com alguma dificuldade mas vamos nos recuperar e voltar a crescer”