Com números atrativos e crescimento contínuo, o mercado de franquias brasileiro atrai não só interessados em se tornar franqueados, mas também empresários que desejam franquear seus negócios. Se você pensa em virar um franqueador, essa matéria vai te ajudar a entender melhor o processo de formatação de franquias.
O franchising brasileiro começou o ano com saldo positivo. Apesar do desafiador cenário econômico do país, o faturamento do setor de franquias cresceu 7% no primeiro trimestre de 2019. No total, de janeiro a março esse mercado movimentou mais de 41 bilhões de reais. A informação é da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
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Muitas das franqueadoras já são antigas no segmento, contando com uma extensa rede de franqueados e marcas consolidadas em todo o Brasil. Ainda assim, há espaço no mercado para novas franquias, como comprovam os números apurados pela ABF. Segundo a instituição, em 2018 o número de redes de franquias voltou a crescer, depois de passar por uma queda em 2017. Com alta de 1,1%, o franchising fechou 2018 com 2.877 redes de franquias ativas.
A expectativa da ABF é de que esse crescimento se mantenha em 2019, com mais um avanço de 1% no número de franqueadoras. Já o faturamento do setor deve crescer entre 8% e 10%, enquanto o número de unidades de franquias tem crescimento estimado em até 6%.
Empresas que sonham em crescer e conquistar novos territórios, tornando suas marcas reconhecidas nacionalmente, encontram no franchising uma oportunidade de ouro.
A formatação de franquias é um processo que exige amplo planejamento e envolve várias etapas – desde a análise de viabilidade do projeto até um cuidadoso planejamento financeiro e desenvolvimento de documentos da franquia.
A seguir, você confere um passo a passo para começar a preparar o seu negócio para o franchising. Boa leitura!
1. Avalie seu negócio
O primeiro passo, antes de colocar em prática qualquer etapa da formatação de franquia em si, é avaliar se o seu negócio é realmente “franqueável”.
O mercado é concorrido. Portanto, é preciso que o negócio tenha uma boa base para conseguir se desenvolver, atraindo franqueados e conquistando clientes nas novas unidades.
“O empreendedor precisa verificar se o seu negócio, que já está em funcionamento, é lucrativo e se pode ser replicado, podendo transformá-lo em uma rede de franquia. Caso este negócio tenha algum diferencial, melhor ainda. Ter uma rede de franquia deve gerar ganho de escala, na compra e distribuição de produtos”, afirma Mércia Machado Vergili, consultora da GSPP e especialista em franchising.
Nesse momento, é importante analisar marcas concorrentes que já estão no franchising e se perguntar:
- O que o seu negócio tem de diferencial, frente aos concorrentes?
- Quais são os pontos fortes e fracos dos principais concorrentes?
- Há espaço no mercado para mais uma rede no ramo em atua?
Não é tão simples assim perceber o momento certo de franquear um negócio. Algumas empresas já nascem com o propósito de se tornar uma franquia no futuro; outras, começam a pensar no assunto pela iniciativa dos próprios clientes, que questionam as possibilidades de novas lojas. Em todo caso, a avaliação profunda do negócio é crucial para que se tenha uma visão clara do mercado e da viabilidade do projeto.
2. Faça um estudo financeiro
Se você acha que seu negócio está apto a se tornar uma franquia, é hora de começar a colocar tudo no papel. E o planejamento financeiro é uma das etapas mais importantes do processo de formatação de franquias.
Fazer esse planejamento logo no início do projeto é fundamental, inclusive para colocar a viabilidade do franchising à prova, como explica Mércia. “O processo de formatação deve ter um estudo financeiro, que com o olhar de um analista experiente, pode trazer correções e melhorias ao modelo de negócio que está em operação. Neste estudo será analisado também a viabilidade do negócio e os ganhos com o crescimento”, pontua a consultora.
Nessa análise financeira, é importante levar em conta não só o quanto custaria para que uma nova unidade fosse aberta, mas também quais são os custos rotineiros da operação.
“O novo franqueador deve ter em mente que um bom negócio tem que ser lucrativo para ele e para o franqueado. No estudo financeiro o franqueador pode fazer ajustes na operação para que tenha menor custo e maior margem para o franqueado”, acrescenta Mércia.
Pode até parecer óbvio, mas é preciso ter clareza, também, que a formatação de franquia tem custos. Não é só abrir as portas para franqueados e esperar sua marca crescer: transformar um negócio em uma franqueadora vai exigir investimento por parte do empresário.
Mércia esclarece: “os custos do franqueador não são muitos no início da franquia. Eles irão crescer de acordo com a abertura de lojas franqueadas, isto é, serão gradativos e só se tiver demanda para isto”.
Para o início do processo, você deve estar preparado para arcar principalmente com o investimento na formatação em si e nos profissionais que estarão envolvidos nessa fase – como consultores e advogados. Em um segundo plano, também vale pensar em um orçamento para o marketing e formas de captação de candidatos, quando for a hora.
3. Defina as taxas de franquia
Uma das grandes preocupações de quem pensa em franquear seu negócio é o quanto cobrar pela franquia. De fato, a definição das taxas são uma parte importante no processo de formatação de franquias. Afinal, é aqui que você começa a organizar quais serão os seus ganhos como franqueador.
Nesse sentido, o primeiro passo é, é claro, conhecer bem quais são as taxas do franchising, quando cada uma é paga e para quê servem. As principais taxas de uma franquia são:
- Taxa de franquia: paga na assinatura do contrato, essa taxa é única e corresponde à concessão do uso da marca pelo franqueado, transferência de know how e apoio inicial da franqueadora.
- Royalties: geralmente pagos à franqueadora mensalmente. A taxa é uma remuneração para manutenção do direito de uso da marca, comercialização de produtos/serviços e acesso ao suporte do franqueador.
- Taxa de publicidade: a taxa de publicidade, propaganda ou marketing é um valor pago, assim como os royalties, mensalmente à franqueadora. Essa taxa constitui um fundo a ser usado pela franqueadora nas ações de marketing da marca como um todo.
“Os valores de investimento, taxa de franquia, royalties e taxa de propaganda devem ser definidos no estudo financeiro, para que mantenha margem de lucro para o franqueado e franqueador. Este estudo deve ser muito sério e cuidadoso, feito por um profissional qualificado para segurança das duas partes”, aconselha Mércia.
Além dessas taxas, é importante que o novo franqueador faça uma estimativa também dos investimentos que não são pagos à franqueadora, mas também são necessários para a abertura de uma franquia. Aqui, os principais são:
- Capital de instalação: diz respeito a todo o investimento necessário para a implantação da unidade. Esse valor varia conforme o modelo de franquia e pode até ser eliminado em franquias home based, por exemplo. Pode incluir adaptação do ponto comercial, padronização de acordo com a identidade visual da marca, projeto arquitetônico, compra de mobiliário, softwares de gestão, equipamentos, uniformes de funcionários, primeiro estoque.
- Capital de giro: valor que deve ser reservado pelo franqueado para custear a operação enquanto a franquia não atinge o ponto de equilíbrio.
Para saber mais sobre as taxas de franquia e como podem ser cobradas, acesse esta matéria completa.
4. Planeje a padronização do modelo
Padronização é uma palavra-chave na formatação de franquias. Afinal de contas, um negócio só é replicável quando pode ser padronizado. Cada unidade de franquia deve seguir o mesmo padrão, respeitando a marca e unificando a rede.
O visual é muito importante nesse processo. Padronizar o projeto arquitetônico das unidades, com as mesmas cores, mobiliário, fachada e disposição de produtos é vital para que a marca seja reconhecida logo de cara. Mas, a padronização de um modelo de franquia vai muito além da “cara” das unidades.
Será necessário organizar e padronizar todos os processos operacionais, para que seja possível aplicar um atendimento uniforme em todas as unidades da rede. Além disso, é preciso definir fornecedores homologados para a compra de insumos e constituição de estoques, estratégias de precificação, ações de marketing, entre outros pontos.
Para transmitir tudo isso aos franqueados, o franqueador deve disponibilizar treinamentos e manuais da franquia. Consultorias de campo também são úteis para verificar e garantir a manutenção dos padrões da marca quando as unidades franqueadas já estiverem em operação.
5. Providencie os documentos da franquia
Outra etapa essencial na formatação de franquias é providenciar a documentação típica do sistema de franchising brasileiro, conforme previsto na Lei de Franquia.
“Uma franquia deve ter um bom contrato de franquia e a Circular de Oferta da Franquia (COF) muito bem elaborados e personalizados para cada negócio, com suporte de advogado especialista nesta área”, indica Mércia.
Para finalizar os textos tanto da COF quanto do contrato, é preciso chegar nessa etapa com um modelo de negócio bem estruturado. Portanto, ainda que a documentação jurídica seja extremamente importante, assegure-se de que você está definindo esses documentos quando já passou por todos os estudos e planejamentos do negócio.
6. Organize a estrutura da franqueadora
Suas necessidades como gestor de um negócio não serão necessariamente as mesmas como franqueador. Assim, para estruturar a franqueadora, será necessário pensar nas novas demandas e em como solucioná-las.
Nesse sentido, pode ser necessário investir em tecnologia – como softwares de gestão, por exemplo – novas instalações ou escritórios. Além disso, é preciso pensar em como será a divisão de tarefas da franqueadora e na contratação de uma equipe para assumir essas funções.
“No início, o franqueador terá como coordenar as primeiras unidades com sua própria equipe de loja”, afirma Mércia. Porém, a consultora destaca também necessidades que surgem com o desenvolver da franquia: “uma franqueadora, depois de já ter algumas lojas e estar em processo de expansão, deverá ter consultor de campo, consultor de expansão, pode ter um profissional de marketing. Para o começo da franqueadora é isto. Sempre deve-se contratar mais pessoas para equipe à medida que tenha necessidade real para isto, como por exemplo, necessidade de criar um centro de distribuição”.
7. Desenvolva o plano de expansão
Além de todo o planejamento de formatação de franquias, o franqueador deve passar por um outro planejamento importante nesse início no franchising: o de expansão. Essa é a hora de definir quais são as regiões de interesse para começar a buscar potenciais investidores e abrir novas unidades.
Nada de ir com muita sede ao pote. A ideia de espalhar a marca por todo o país e alcançar múltiplos territórios é extremamente atrativa e pode ser um objetivo concreto ao longo do caminho. No início, porém, a recomendação é pensar em uma expansão mais estratégica, levando em conta a logística e a capacidade de atuação da nova franqueadora.
Mércia alerta: “na maior parte dos negócios, o plano de expansão deve iniciar próximo a franqueadora, para que o suporte e acompanhamento da loja franqueada seja fácil e constante. A expansão deve ser priorizada para regiões com público ideal para venda daquele produto, com alto fluxo de pessoas e pontos com boa atratividade. O franqueador deve dar a palavra final para aprovação do ponto”.
8. Procure ajuda
Por fim, vale o conselho: procure ajuda de profissionais. O processo de formatação de franquias é longo e exige atenção a muitas particularidades. Um especialista vai poder te guiar e cuidar para que nenhum ponto importante seja esquecido, além de indicar quais os melhores caminhos a seguir com base em um conhecimento prático no mercado de franchising.
“O processo de formatação envolve muitos detalhes, hoje existem consultorias que podem fazer este processo com maior segurança e rapidez”, reforça Mércia.
Além de consultorias especializadas em franchising, busque por advogados com conhecimento nesse sistema para a elaboração da documentação.