Para quem pensa em abrir um negócio, ao realizar pesquisas sobre as melhores formas de investimento, o interesse pelo mundo do franchising é frequente. Mas, na hora de tirar os planos do papel vem a dúvida: o que é franquia? Qual a diferença entre abrir uma franquia e fazer um licenciamento?
A confusão sobre o que caracteriza uma franquia e como esse modelo se diferencia de revenda e licenciamento – e quais são as suas particularidades – é mais comum do que se imagina. Nesta matéria, a proposta é que você entenda melhorar cada um destes conceitos, para sair em busca do que melhor se adequa aos seus sonhos e objetivos profissionais.
O que é franquia?
Entendida como uma das possibilidades para adentrar no mundo dos negócios, a franquia se estrutura como um modelo de operação que é copiado e transferido para outro ponto comercial, sob autorização de quem detém os direitos sobre a marca.
➥ Confira também: 100 opções de franquias baratas (a partir de R$ 699)
Todo franqueado atua mediante transferência de know-how, que é basicamente a transferência para os empreendedores, realizada pela franqueadora, sobre todos os conhecimentos sobre gestão, operação e divulgação da empresa. Em uma franquia, todos estes conhecimentos são transferidos para a unidade franqueada, entendida muitas vezes também como uma loja “gêmea” da unidade original que expandiu por franchising.
Deixando mais claro, normalmente o franchising se define quando a franqueadora autoriza um terceiro, intitulado franqueado a:
- Explorar os direitos de uso da marca proprietária da franqueadora;
- Explorar direitos de distribuição em um mercado definido;
- Utilizar um sistema de operação e gestão de um negócio formatado.
Juarez Leão, diretor institucional da Associação Brasileira de Franchising (ABF), define o franchising na prática como uma estratégia comercial para obter maior distribuição de produtos e serviços, assim como maior expansão territorial para empresas.
“Enquanto estratégia comercial, o sistema de franquias estabelece uma plataforma de interesses comuns entre franqueadora e franqueados, tornando-os parceiros que trabalham sob um único sistema; parceiros que buscam sucesso e lucro mútuo! É um sistema eficiente e bem-sucedido no mundo inteiro, assim como no Brasil”, destaca Juarez.
Uma das franquias mais famosas do mundo é o Mc Donald’s. Gigante norte-americana, a marca pertencia inicialmente aos irmãos Richard e Maurice Mac McDonald, que não conseguiam mais gerenciar as unidades próprias da marca.
Roy Kroc, à época um simples vendedor, propôs aos fundadores da marca copiar o modelo de negócio, com estilo de cozinha, operação e distribuição, e abrir outras lojas pelo país com a mesma bandeira. A primeira franquia por inaugurada por Kroc e, atualmente, são mais de 5 mil unidades franqueadas em todo o mundo – somente no Brasil, existem mais de mil franquias Mc Donald’s.
As franquias também contam com um amplo suporte, que vai desde o suporte judiciário e arquitetônico até treinamentos, marketing e, em alguns casos, universidades corporativas que permitem um maior aperfeiçoamento do franqueado e seus funcionários, aumentando as suas chances de sucesso.
O diretor da ABF ainda reforça a necessidade de tanto a rede quanto o franqueado seguirem à risca a Lei da Franquia, que regula a atividade de franquias no território nacional.
O cenário das franquias no Brasil
O sistema de franchising chegou no Brasil em 1960 e, desde então, não para de crescer. Nos anos 80, o modelo de franquias ganha ainda mais força, e com isso a ABF (Associação Brasileira de Franchising) surge em 1987, sendo que em 1994 é publicada a Lei nº 8.955/1994, que regula o funcionamento de franquias no Brasil.
Segundo relatório produzido pela ABF, 42% dos municípios brasileiros contavam com alguma franquia em 2016. O saldo de abertura de unidades continua sendo historicamente positivo, a cada trimestre aumentando a quantidade de franqueados em todo o país.
Ter uma rede por trás, te ajudando em todos os passos e trabalhando junto com você pelo sucesso da unidade atrai muitas pessoas para o franchising. Com muitas marcas em funcionamento há décadas, e tantas outras com nomes fortes ou potencial de crescimento, investir em franquia é uma ótima ideia para quem está pronto para arregaçar as mangas e trabalhar em equipe para alcançar o sucesso.
No balanço geral do desempenho das franquias do país em 2017, desenvolvido pela ABF, o franchising brasileiro cresceu 8%, em comparação com o ano anterior. Ao todo, as receitas atingiram a marca de 163 bilhões de reais, frente a 151 bilhões registrados em 2016. Para a ABF, o fator que impulsionou o bom desempenho do setor foi o investimento em inovações constantes, em todos os segmentos do franchising.
Internacionalização das franquias
Além dos bons resultados das franquias brasileiras como um todo, o segmento vive um movimento interessante, que impulsiona o desempenho. Em pesquisa desenvolvida pelo Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Internacional (PMDGI) da ESPM, em parceria com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), é descoberto que o país conta com 134 redes brasilerias no exterior. Em número de unidades, o Brasil ocupa a sexta posição em um ranking internacional, com o total de 138.343 unidades. O crescimento foi de 10,1% em relação a 2014, quando o país contava com 125.641 unidades. Quando pensamos em número de marcas internacionalizadas, o país possui 3.073, registrando um crescimento de 4,5% a mais que em 2014, quando o franchising brasileiro contava com 2.942 marcas internacionalizadas.
O que é franquia: a diferença entre franquia, revenda e licenciamento
Muitas pessoas que estão começando a pesquisar por franquias ainda contam com diversas dúvidas sobre a definição deste modelo de negócio, sendo muito comum confundir os conceitos de franquia, revenda e licenciamento.
Por mais que existam certas semelhanças, esses modelos de negócio contam com modos de operação e funcionamento muito distintos, sendo importante fazermos a diferenciação de cada termo de forma separada.
O que é licenciamento?
O licenciamento é uma modalidade de contrato em que a empresa cede ao licenciado o direito de uso de sua marca, assim como seus produtos e serviços. Esse tipo de contrato prevê lucro ao licenciante pelo pagamento de royalties.
As franquias também contam com o licenciamento em seus contratos, porém nesse caso a relação vai mais a fundo. Juarez Leão explica que o franchising, diferente do licenciamento, prevê uma série de alinhamentos internos e externos, de forma que a unidade franqueada realmente represente a marca, contando também com suporte e treinamentos mais extensos.
Empreendedores que licenciam alguma marca contam com maior autonomia na hora de administrar seu negócio, visto que o controle da licenciante é apenas sobre a marca usada. Os contratos costumam ser de menor duração do que os contratos de franquia, com menos obrigações entre as partes.
Tal autonomia tem vantagens e desvantagens. Se por um lado você poderá tomar todas as decisões, investir no que acha mais importante e determinar o andamento do negócio, por outro, você não conta com o suporte de uma empresa maior e mais experiente. Para quem é estreante no mundo dos negócios, esse suporte pode ser decisivo na hora de alcançar o sucesso do negócio.
No licenciamento, o detentor de uma marca, de um personagem ou de uma propriedade intelectual legalmente protegidos, por exemplo, cede seu uso por tempo determinado, ao licenciado. O detentor receberá uma remuneração, que pode estar relacionada ou não ao desempenho da utilização da marca pelo licenciado.
O processo de licenciamento envolve três pilares: o licenciador, no caso, o proprietário dos direitos de uso de uma marca; uma agência especializada em licenciamento, que será a representante do licenciador; e o licenciado, que é a pessoa física ou jurídica que contrata o uso da marca por um determinado período de tempo.
Toda a tramitação é regulamentada pelo contrato de licenciamento e as negociações são feitas pela agência de licenciamento. Os direitos de propriedades industriais e marcas, por exemplo, são os royalties. Direito de uso de personagens, celebridades e produtos artísticos, é entendido como copyright.
Para a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral), existem muitas vantagens para quem opta por começar um licenciamento:
- Aumento de vendas, uma vez que um produto licenciado tem, em média, um giro 45% do que um similar não licenciado;
- Fortalecimento do produto ou linha no mercado;
- Promoção do nome da empresa licenciada;
- Ampliação de mercados;
- Reconhecimento do público alvo;
- Destaque entre os concorrentes.
O que é revenda?
O termo revenda é bastante abrangente, podendo se encaixar tanto no estilo de franquia, licenciamento e outras formas de negócio. Basicamente, revender significa apenas comprar de um distribuidor ou fornecedor e vender para seus clientes.
Por exemplo, caso você possua um comércio de roupas, você pode possuir fornecedores com quem você não possui nenhum tipo de contrato. Ou seja, a relação entre fornecedor-revendedor é mais próxima de uma relação cliente-empresa.
O conceito de revendedor autônomo também é bastante popular. Como exemplo, temos grandes redes de cosméticos como Avon e Natura, populares por venderem produtos por meio de revendedores que fazem o pedido diretamente da fornecedora e recebem uma parcela do lucro.
Nesse estilo de revenda, por mais que exista algum suporte da marca para revendedores, a empresa não se responsabiliza por conteúdos criados por esses revendedores. O lucro costuma ser fixado em contrato e é comum que seja exigido um investimento inicial, normalmente vindo na forma de um kit iniciante para revendedores.
Formatos de franquias
As franquias aparecem em todos os formatos, modelos e tamanhos possíveis. Normalmente, as redes contam com uma série de requisitos para a instalação de uma unidade, como população, localização e experiência do interessado.
O investimento necessário também pode variar drasticamente. Existem aquelas franquias mais caras, como o McDonald’s, cujo investimento pode chegar a mais de 2 milhões de reais, até as microfranquias e nano franquias, com opções que custam menos de 10 mil reais.
As microfranquias contam com um investimento máximo de 80 mil reais e costumam trabalhar com prestação dos mais diferentes serviços. A maioria não exige que o franqueado possua um ponto comercial físico, diminuindo bastante os custos iniciais e permitindo uma maior abrangência de locais atendidos.
Já as nano franquias contam com investimentos ainda mais baixos, de até 25 mil reais. Com foco em prestação de serviços e vendas, a grande maioria das franquias que se enquadram nessa categoria funcionam no formato de trabalho home based, quando o empreendedor gerencia seu negócio diretamente de casa.
As redes trabalham com formatos de trabalho e local diferentes. Algumas exigem um local de funcionamento físico, o que abrange lojas, quiosques e serviços in store (dentro de outra loja ou empresa), entre outros. As franquias home based também aparecem em diversos formatos, algumas funcionando inteiramente pela internet e outras em um esquema de delivery, onde o empreendedor ou seus funcionários prestam o serviço diretamente no local desejado pelo cliente.
Buscando sua franquia ideal
Na hora de escolher uma franquia para investir, é necessário buscar o maior número de informações sobre a rede possível.
Depois de pesquisar e se interessar por alguma, entre em contato com a rede que você deseja se tornar franqueado e a empresa cederá informações e depoimentos de outros franqueados. A maioria das franquias oferecem opção de pré-cadastro em seus portais oficiais na internet, junto com outras informações.
Além de checar as informações que a empresa te passou, procure também entrar em contato com outros franqueados, para que você tome conhecimento da experiência prática de como é o desenrolar do negócio.
Vale a pena procurar por um investimento que esteja dentro da sua área de conhecimento, além daquelas áreas que te interessam ao ponto de te incentivar a conhecer mais profundamente. Diversas instituições também oferecem cursos para quem nunca empreendeu e deseja entrar no ramo das franquias, o que pode facilitar e muito sua entrada no mercado.
Sempre que possível, procure a ajuda de consultorias e advogados especializados em negócios, ou até mesmo especializados em franquias. Esses profissionais são de grande ajuda, pois poderão te orientar durante o processo e assim evitar surpresas desagradáveis no futuro.
Iniciar um novo empreendimento pode ser uma tarefa trabalhosa e difícil, mas com certeza pode ser muito recompensador para o empreendedor. Optar por investir em franquias abre a possibilidade de tornar certos aspectos, como marketing, escolha de fornecedores, entre outros, mais fáceis e com menor chance de erros, e o suporte da franquia faz toda a diferença.
Custos e taxas de uma franquia
Para que a franquia esteja em pleno funcionamento, é preciso entender que muitas marcas cobram alguns tipos de taxas, outras escolhem quais serão as pagas pelo empreendedor. A escolha por cobrar determinada taxa, ou não, varia de acordo com o segmento, porte da franquia, modo de atuação no mercado e até fruto de um acordo entre as partes.
Ao incluir um novo franqueado na base de negócios, as franqueadoras assumem diversas despesas, como a divulgação da unidade em diversos canais de comunicação, eventos, anúncios, entre outros.
Taxa de franquia
A taxa de franquia é, geralmente, a primeira taxa apresentada ao empreendedor. Esta cobrança representa o ingresso do novo franqueado à rede e serve também como cobertura dos gastos pela transferência de know-how. Na taxa de franquia geralmente estão inclusos valores com treinamento inicial, suporte de implantação da unidade e ações do franqueador para viabilizar o início da unidade.
A taxa de franquia é cobrada somente uma vez, na validação do contrato entre a franqueadora e o empreendedor. Ao final do contrato, que costumam ter duração de cinco anos, a renovação do documento pode gerar uma nova cobrança de taxa de franquia.
É comum encontrar no franchising muitas marcas que não cobram pela taxa de franquia. Quando é assim, geralmente a taxa de franquia está inserida em outras taxas e, por isso, é importante que o empreendedor preste atenção ao contrato de franquia. Muitas marcas não cobram a taxa de franquia porque têm como objetivo a rápida expansão da marca e maior atração de candidatos. Em geral, a taxa de franquia garante as seguintes coberturas:
- Programa inicial e treinamentos;
- Manuais de operação do negócio;
- Apoio e suporte da franquia no pós inauguração da unidade;
- Direito do uso de marca;
- Apoio no projeto arquitetônico;
- Suporte na escolha do ponto comercial.
Royalties
A taxa de royalties corresponde à cobrança feita a todo franqueado pelo uso da marca e transferência contínua de know-how. As franqueadoras costumam cobrar mensalmente os royalties, sendo calculado com base em uma determinada porcentagem do faturamento bruto da unidade franqueada.
O valor da taxa de royalties é também utilizado para a criação de pesquisas para novos produtos e serviços, além de investimentos em melhorias na qualidade da rede. A taxa também serve para cobrir despesas do franqueador com ações voltadas aos franqueados, sejam treinamentos, atualizações de manuais, eventos, entre outros gastos.
Em geral, é comum alguns itens estarem inclusos na taxa de royalties:
- Tecnologia oferecida pela franqueadora;
- Uso da marca;
- Fornecimento de produtos;
- Pesquisas;
- Desenvolvimento de novos produtos;
- Ações e eventos voltados aos franqueados.
Taxa de serviço
Em alguns casos, é necessário que a franqueadora realize algum serviço nas unidades franqueadas que não constava nos planejamentos iniciais. Se este serviço não estiver inserido em alguma outra taxa, a rede pode efetuar a cobrança de uma taxa de serviço, própria para cobrir gastos extras e outros imprevistos. Geralmente, são cobrados em casos de assistências gerais, atuação em situações imprevistas e serviços extras não inclusos em outras taxas.
Taxa de sistema
É importante saber que não são todas as franqueadoras que cobram taxa de sistema. Muitas marcas transformam esta taxa no valor de pagamento aos funcionários, pelo uso de tecnologias e sistemas que demandam altos custos de manutenção, como computadores e sistemas de gestão da franquia.
A taxa de sistemas varia de acordo com o modo de atuação da rede no mercado, podendo ser fixa ou variável. Os itens que geralmente estão inclusos nas taxas de sistemas são:
- Manutenção de equipamentos e assistência técnica;
- Atualização de softwares;
- Implementação de tecnologias;
- Aplicativos;
- Manutenção de site para franqueados (centrais);
- Sistemas integrados.
Taxa de renovação
Esta taxa diz respeito ao prolongamento do contrato entre franqueadora e franqueado que, geralmente, tem validade de cinco anos. A renovação pode estar inserida na taxa de franquia, o que deve estar explícito no contrato de franquia.
Os valores cobrados na taxa de renovação devem ser os mesmos da primeira vigência, com adição de juros e inflação do período.
* Com contribuições de Luísa Campos.